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Semana especial sobre fertilização, inseminação e câncer
Data de publicação: 05/07/2021
Cats, especialmente esta semana trataremos sobre o tema fertilização, inseminação e câncer.
Ouvimos suas perguntas e convidamos o Dr. Fernando Prado, médico ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana, doutor pelo Imperial College London e pela Universidade Federal de São Paulo, diretor técnico da Neo Vita e diretor do setor de embriologia do Labforlife, para respondê-las.
Confira:
Qual a diferença entre fertilização in vitro e inseminação artificial?
“A inseminação artificial é um pouco mais simples do que a FIV (fertilização in vitro) e é usada quando existe a necessidade de diminuir o percurso do espermatozóide ao óvulo, como quando o sêmen tem baixa mobilidade ou o colo do útero da mulher impede a subida do gameta masculino, por exemplo. Neste caso selecionamos os espermatozoides mais móveis e os depositamos diretamente dentro do útero, sem ter contato com o muco (que poderia matar os gametas), quando a mulher já está ovulando, facilitando a fecundação.
Já a FIV é feita totalmente em laboratório, com a coleta prévia de ambos os gametas. Realizamos a fertilização fora do corpo feminino e deixamos os embriões em uma incubadora. Depois de alguns dias esses óvulos fecundados serão transferidos para o útero.
A fertilização in vitro é indicada em casos mais complexos, por exemplo quando a mulher teve endometriose, tem algum tipo de obstrução nas trompas, tem mais de 40 anos, ou quando o homem teve uma varicocele, que é a dilatação dos vasos na região dos testículos.”
O SUS realiza tratamento de fertilização para pacientes que não podem engravidar naturalmente?
“O SUS não faz cobertura da reprodução assistida, mas alguns hospitais públicos acabam recebendo verbas de fundações ou de governos para realizar alguns tratamentos. Como são poucas vagas, demora para ser aceito no programa, já que é um processo que requer muita análise. Também não está disponível em todos os estados, apenas em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte e no Distrito Federal.
Os requisitos nesse caso são um pouco mais rígidos, por exemplo se você já teve algumas gravidezes, provavelmente não será aceito no centro de fertilidade gratuito.
Os planos de saúde são obrigados a cobrir o tratamento desses pacientes?
Por lei, os planos de saúde não são obrigados a cobrir casos de infertilidade. Porém, existem pessoas que foram a justiça com o assunto e ganharam, mas é raro. Varia muito de caso para caso.
O congelamento de óvulos ainda é possível após a quimioterapia?
O tratamento quimioterápico é super danoso para o sistema fértil feminino, e pode diminuir muito a qualidade dos óvulos, mas não é possível prever o quanto e se será possível conceber depois. Por isso, indicamos que entre o período de descoberta do câncer e início da quimioterapia, seja feita a coleta desses gametas quando estão na sua melhor versão possível.
Para estas pacientes, existe também a opção da transposição de ovários, que é um procedimento cirúrgico (videolaparoscopia), que colocará os ovários atrás do útero durante o período do tratamento ou em outra localização distante do local que será atingido pela radiação, assim após o tratamento radioterápico os ovários podem voltar ao seu devido lugar com uma pequena cirurgia, garantindo assim a fertilidade dessas pacientes. Claro, é preciso conversar tanto com o obstetra e oncologista, para verificar se seria a melhor opção.
Como funciona o procedimento para ser beneficiária de ovodoação?
A ovodoação é um último caso, mas seu ginecologista irá realizar os exames necessários para saber se você precisa ser uma beneficiária. Se qualificam casos de danos por tratamentos oncológicos, falência ovariana, menopausa precoce ou até se existe uma doença genética grave que a mulher não deseje passar para o bebê.
Após o congelamento de óvulos, por quanto tempo eles podem permanecer armazenados? Há custo mensal?
O óvulo, ou embrião já fecundado, pode ser mantido por um período de até 20 anos atualmente. Existe um custo anual, que na maioria das clínicas varia em torno de R$1.500.
A fertilização representa um risco para pacientes que tiveram câncer de mama com receptores hormonais?
“A fertilização em si não é um problema, pois existem protocolos para estimular a ovulação em pacientes portadoras de tumores. Esses protocolos são extremamente seguros e protegem contra um avanço ou desenvolvimento de câncer.
Porém, quando a mulher quiser engravidar, não temos como usar esses mesmos protocolos e ela estará exposta a hormônios naturais durante todo o período gestacional. Neste caso cabe ao oncologista liberar a paciente para engravidar com segurança após a cura da doença.”
Há uma forma de proteção para as pacientes que tiveram câncer de mama com receptores hormonais? Há diferença no protocolo?
“Sim e são protocolos bastante seguros. Usamos um tipo de hormônio para estimular a ovulação que bloqueia a ação dessas substâncias nas células cancerígenas. Então os óvulos se desenvolvem normalmente sem acelerar ou estimular o desenvolvimento de câncer.”
A fertilização aumenta as chances de gestação de múltiplos?
Existe um grande aumento no risco de gêmeos, mas só quando colocamos mais de um embrião no útero. Em uma gravidez natural as chances são ao redor de 1%. Já nos casos de FIV, fica em torno de 20% a 30%. Porém, as melhores clínicas do mundo preconizam transferir para útero apenas um embrião de cada vez, justamente para prevenir gêmeos e os riscos para a mãe e bebê quando temos gravidez gemelar.
Qual o melhor momento para pacientes realizarem o congelamento de óvulos e a fertilização?
O congelamento é ideal entre 20 e 35 anos que é o período mais fértil e de maior qualidade dos óvulos da mulher. Depois desse período, eles já vão decaindo em qualidade. Porém, podem ser congelados óvulos em qualquer idade, desde que seja possível obtê-los (antes da menopausa).
Já a FIV pode ser feita sempre que houver um problema que necessite o tratamento, como endometriose, obstrução nas trompas uterinas ou alteração no espermograma. E é especialmente recomendável para quem deseja engravidar após os 40 anos, já que pode ser feita uma biópsia nos embriões que diagnostica síndromes e podem ser escolhidos os embriões normais para colocar no útero. Porém após os 44 anos as chances já são bem baixas, e talvez seja melhor considerar a ovodoação ou até mesmo a barriga solidária.