- quimioterapia
- autoexame
- cancerdemama
- diagnostico precoce
- habitos saudaveis
- historiadecat
- negação
Negação – história de Cat
Data de publicação: 31/05/2023
“não queria aquilo pra mim, não suportaria”…
“Tudo começou em 13 de abril/19, às vésperas do meu aniversário de 49 anos. Era uma linda manhã de sábado, estava animada para cortar os cabelos. Entrei no chuveiro cantarolando Beautiful Day, com U2. Ensaboando meu corpo, olho pra baixo e vejo um pequeno afundamento na mama esquerda. Foi como se o chão faltasse aos meus pés e o lindo dia se escureceu. Fiquei muito assustada e fiz o autoexame na hora. Sempre tive muitos cistos mas, aquele parecia estar maior a ponto de deformar a mama.
Quando sentei na cadeira da cabeleireira como que intuindo o que estava por vir, pedi para cortar bem curtinho. Ela não acreditou e perguntou se eu tinha certeza, disse que sim. A minha cabeça fervia com a descoberta no banho, e se tivesse que perder meu cabelo pra quimio ele curtinho seria mais fácil pra mim… Pensamentos acelerados e confusos eu tive…
Dias tensos se seguiram, eu não conseguia dormir e em vez de buscar ajuda médica botei na cabeça que era alteração hormonal e que assim que menstruasse minha mama voltaria ao normal. Claro que não voltou! Essa foi a minha fase de negação. Me tornei uma pessoa extremamente desagradável e brigona com todos que me cercavam. Trabalhava na época como plantonista no laboratório de emergência de um grande hospital público de Brasília; em todos os plantões tinha contato com pacientes que iam para a quimioterapia, faziam exames antes do procedimento e via a fragilidade e o medo nos olhos de cada um deles e tive medo. Medo não, pavor! Não queria aquilo pra mim, não suportaria, pensava comigo… Sempre fui uma mulher muito vaidosa, e a ideia de me ver fragilizada e sem cabelos como as pacientes que atendia no laboratório me desesperava.
Em maio, viajei de férias para a praia para comemorar o meu aniversário e principalmente para botar os pensamentos no lugar. Tomei alguns porres, chorei muito e pedi a Deus que se eu estivesse doente que Ele colocasse bons profissionais no meu caminho e que me desse força para passar por tudo.
Então, finalmente ouvi a voz da razão da profissional de saúde que sou. Como farmacêutica sei que o diagnóstico precoce salva vidas, mas a princípio foi difícil admitir que tinha algo de muito errado comigo. Enfim, o diagnóstico foi mais difícil e demorado do que eu previa. Foram muitos exames e consultas até que finalmente saiu o diagnóstico no final de julho/19. Carcinoma lobular invasivo de grau II e graças a Deus sem outros comprometimentos. A fase tensa chegou ao fim, entendi o que tinha e aceitei os protocolos médicos propostos sem questionar e concluí o tratamento em 10 meses sem nenhuma intercorrência (16 sessões de quimioterapia, cirurgia conservadora, 20 sessões de radioterapia).
Optei por não fazer a reconstrução da mama. Afinal, o que é simetria de mama para quem sobreviveu a um câncer? Entendi que pra mim isso não era mais importante, porque sou muito mais que isso… Perder o cabelo não foi difícil como eu pensei que seria. Sempre gostei de mudar a cor dos cabelos então, me joguei nas perucas, nos lenços e nos chapéus coloridos, e assim foi mais uma fase da minha vida.
Descobri que tenho a melhor família do mundo e grandes e verdadeiros amigos que seguraram a minha mão até o fim. Descobri também que valorizava demais pessoas que nunca estiveram ao meu lado como eu estive ao lado delas. Hoje sigo com hormonioterapia e com alimentação equilibrada e muita atividade física e posso dizer que a vida segue tranquila. Ganhar peso e ter que comprar roupas grandes que eu não queria, sem dúvida foi o mais doído pra mim. Mas o tempo é o melhor remédio pra tudo! Consegui perder os 12 quilos que ganhei com o tratamento, aprendi a dizer não para o que não me agrada. Consegui junto a Medicina do Trabalho mudar a minha lotação no trabalho. Chega uma hora que precisamos entender nossos limites e pra mim seria muito difícil conviver com aqueles pacientes em tratamento sem reviver diariamente o meu drama pessoal.
Hoje, procuro viver de forma mais leve e aprendi cuidar melhor de mim, da minha alimentação e do meu lado psicológico e espiritual. Acho que o câncer é sobre isso, se você consegue vencer o seu medo e vai a luta você vence todos os desafios da doença e aprende que a vida acontece agora! Viver o agora junto àqueles que amamos é a única certeza que temos.”
Magali A. Castro – @magalliacastro