Mulheres, somos todas Luas

Data de publicação: 08/03/2020

Paro um segundo em frente ao teclado do computador. Vou escrever hoje sobre o Dia das Mulheres. No segundo seguinte levanto, ando pelo quarto, são tantas palavras a expressar, fico confusa e agitada, procuro me centrar e lembro que está noite. Abro a janela e lá está ela, no alto negro campo do céu, cercada de estrelas, é Quarto Crescente. Logo me acalmo e as palavras escorrem pelos meus dedos.

A campanha para o International Women’s Day 2020 vem com grande força este ano, intencionando o tema “Each For Equal” (igualdade) como demonstram os principais valores que as guiam: a JUSTIÇA, sendo esta um conceito que pode ser diferente através das culturas mas que baseia-se no respeito entre as pessoas; a DIGNIDADE, como o direito de serem valorizadas e respeitadas, a ESPERANÇA, a IGUALDADE, o RESPEITO, a EMPATIA e o PERDÃO de tudo o que passou , “Olhando para trás para Olhar para frente” (www.internationalwomensday.com).

Com uma campanha assim intensa de união e força escrevo estas palavras com toda a profundidade de um ser feminino que em sua ancestralidade viveu livre, como bicho solto, sem medo, foi Deusa, mãe, venerada e respeitada como divindade, como símbolo de prosperidade e esperança, onde a maior arma era o amor e a graça.

Evidências arqueológicas, antropológicas e históricas comprovam que a mulher foi o centro da vida humana e espiritual durante milênios. Por forças de soberania, disputas e ganância a Deusa foi substituída pelo poder da espada guerreira e o amor matriarcal sucumbiu.

Tantas eras se passaram, fomos curandeiras queimadas como bruxas, fomos criativas revolucionárias tratadas como loucas em camisas de força, fomos rebaixadas ao pior escalão que um ser humano pode chegar, a do desprezo social. A mulher passou a ser controlada, domesticada, como mostram as palavras documentadas no Songe Du Verger, uma compilação de obras que abordava todos os problemas da atualidade política e social na Idade Média: “Entre as más condições que tem as mulheres, em direito, elas tem nove más condições. Primeiramente, uma mulher por sua natureza, busca seu prejuízo. Segundamente, as mulheres são por natureza avarentas… Terceiramente, suas vontades são caprichosas. Quartamente, são hipócritas… Em consequência, as mulheres são reputadas falsas e, portanto, segundo o direito civil, uma mulher não pode ser aceita como testemunha em testamento […] Em consequência, uma mulher faz sempre o contrário do que lhe mandam fazer. Consequentemente são matreiras e maliciosas”.

No século XVIII, Balzac em Physiologie do Mariage, escreveu sua versão à burguesia que o seguia à claras frases: “O destino da mulher e sua única glória é fazer bater o coração dos homens. A mulher é propriedade que se adquire por contrato, ela é mobiliária porque sua posse vale como título, a mulher enfim, não é, propriamente falando, senão um anexo do homem”. E continua: “A mulher casada é uma escrava que é preciso saber colocar no trono. Em quaisquer circunstâncias insignificantes o homem deve eclipsar-se diante delas, ceder-lhes o primeiro lugar, ao invés de fazê-las carregar o fardo, como desobrigá-las de todas as tarefas penosas e de toda a preocupação, sem responsabilidades e , assim, ludibriadas e seduzidas pela facilidade, aceita o papel de mãe e de dona de casa em que a querem confinar”.

Uau ! Fico sem palavras…

E assim, homens e mulheres foram se desconhecendo, afastaram-se da sua verdadeira essência, a de conexão e equilíbrio. A energia feminina representa o farol que ilumina e equilibra o masculino com a finalidade de despertar ambos para uma nova realidade. Essa nova realidade que já está acontecendo. São muitas feridas a serem tratadas, mas é possível, se cada mulher colocar como principal propósito de vida se reconhecer, olhar para dentro, buscar sua força e seu poder que está nela mesma, até sentir prazer em existir, em estar viva e em paz com seu Ser Divino.

É necessário que a mulher se cure de suas dores, emoções, palavras não ditas, experiências não vividas, expressões reprimidas, sonhos não realizados, gargalhadas repreendidas. A mulher quando se cura reaprende a honrar e confiar no seu poder e potencial sagrado de transformação.

O feminino está despertando de seu sono. A Deusa está retornando.
O equilíbrio será restaurado.
Escolheremos o amor ao invés do medo.

Neste dia pare alguns minutos para respirar, ouvir seu corpo, olhar para dentro e buscar o primeiro passo que te levará à sua realização. Mulheres, somos seres sagrados de amor, de ciclos lunares, sabedoria e dança. Reconheçam-se.

Um forte abraço, Renata Isa Santoro
@drarenataisasantoro

Renata Isa Santoro, é médica, cardiologista pediátrica em Campinas, mãe de 2 queridos e está namorando o pai dos filhos dela. No final de 2016, em meio a uma vida workaholic em que sobrevivia no piloto automático, descobriu um câncer de mama que a assolou e a fez recomeçar sua vida e a refazer suas escolhas, como conta no livro que tem ajudado muitas pessoas a despertar para uma nova vida, “Poderosa Leveza de Ser” – editora Chiado. Atua como cardiologista fetal e pediátrica com muito carinho e consultório, é palestrante, está aprendendo a bailar Flamenco, seu hobby é fazer sapatos artesanais, é fã do Kiss e de Krishna Das.


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