Descobrindo um câncer

Data de publicação: 22/06/2020

O ano de 2017 começamos em família todos juntos, porém no mês de fevereiro meu filho mais velho sofreu um acidente gravíssimo onde meus olhos se redirecionaram todos para ele. Uma lesão do plexo braquial interrompeu a carreira dele e tivemos que aprender a lidar com o resultado da perda de todos os movimentos do braço esquerdo. Nesse período percebi o bico do meu peito retraído e o surgimento de um caroço, mostrei ao meu marido que me alertou pra que procurasse um médico.

Em agosto procurei um ginecologista que me examinou e pediu uma bateria de exames e quando realizei o ultrassom a médica me orientou a marcar o retorno ao médico o mais breve possível.

Neste mesmo mês já com os exames em mãos, iniciei meu tratamento. Ali meu chão se abriu numa junção de medo e segurança ao mesmo tempo, por ter sido diagnosticada com um câncer de mama que não era agressivo mais que infelizmente iria me levar uma mama.

Em outubro, em prantos no consultório do mastologista, recebi a notícia que teria que realizar uma mastectomia. Fui acolhida por uma senhora de nome Fátima que realizava naquele local ações de apoio às mulheres com câncer de mama da Associação Recomeçar é Possível. Foi como se Deus colocasse um anjo na vida naquele momento. Passei a frequentar aqueles encontros e perceber que não estava sozinha e ainda conheci pessoas que tinham passado pelo que eu iria passar e que estavam ótimas e seguindo a vida. Tive a oportunidade de receber orientações de como ser vitoriosa.

A cirurgia foi marcada para 11 de dezembro de 2017. Estava confiante, meus médicos me passaram sempre muita segurança. Nesta mesma data mas em 1992, eu dava à luz ao meu filho Hélio.

Fui submetida a uma mastectomia com reconstrução da mama utilizando o tecido da barriga, uma cirurgia grande, dolorida, recuperação lenta, mas com a ajuda dos meus familiares e colegas de serviço superei mais uma etapa.

Em Fevereiro de 2018, iniciei as quimioterapias, com seis seções de Docetaxel com ciclofosfamida. Quando o cabelo começou a cair resolvi cortar bem curtinho para não passar pelo que muitas mulheres relatavam, acordar careca, pentear os cabelos e eles caírem em tufos. Foi difícil mais tenho certeza que menos doloroso.

Porém, depois de uns dez dias a cabeça começa a coçar e a melhor solução foi raspar.

Segui firme! Quando me sentia bem procurava frequentar o encontro semanal na Associação Recomeçar é Possível que me emprestou uma peruca, alguns lenços e um livro que nos primeiros capítulos já me apaixonei pela escritora, “Quimioterapia e Beleza” de Flávia Flores.

Com a leitura aprendi várias dicas de amarração de lenço, maquiagem e que além do câncer de mama e os seus tratamentos pós cirurgia serem doloridos poderia estar descobrindo o quanto eu era forte. Recebi um lenço muito bonito do Instituto Quimioterapia e Beleza e passei a acompanhar as dicas da querida Flávia Flores.

Tive a oportunidade de participar da oficina de automaquiagem promovida pelo Instituto Quimioterapia e Beleza e o projeto De bem com você-A beleza contra o câncer, onde percebi que a autoestima me ajudaria, mesmo com todo mal estar sempre tentei me manter alegre e confiante.

As duas últimas seções de quimioterapia foram difíceis e passei a me sentir muito mal, passei por mais uma bateria de exames. Após o término das quimioterapias iniciei o tratamento de hormonoterapia com Tamoxifeno.

Em junho, fui diagnosticada com um tumor na hipófise, mais um tratamento iniciado e superado com cirurgia.

Em setembro de 2018 tive a oportunidade de participar do Congresso Todos Juntos Contra o Câncer e conhecer a linda e carismática Flávia Flores, quem me convidou para participar de alguns eventos que iriam acontecer no mês de outubro. Pude conhecer várias meninas, muitas jovens, não tinha noção de como essa doença atingia mulheres tão novas. Tive contato com meninas que venceram o câncer, que lutaram e aproveitaram a vida até o seu último dia e muitas que ainda lutam. Me juntar a mulheres que também tiveram câncer de mama teve uma importância muito grande pra mim, aprendi a dar mais valor na minha vida, mudando a minha maneira de viver melhor e de me olhar.

Hoje sou voluntária da Associação Recomeçar e procuro ajudar as pessoas assim como um dia fui ajudada.

Alessandra Marques da Silva, diagnóstico de câncer aos 41 anos, dois filhos, casada, profissão. Policial Militar.


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