"Câncer colorretal aos 25 anos, nem sempre as coisas saem como planejadas" - por Bia Suzuki

Data de publicação: 23/03/2024

A Cat Bia é uma mulher de múltiplos talentos: formada em direito, sushi chef, mãe de um adorável labrador e criadora de conteúdo para pacientes oncológicos, com foco em câncer colorretal. Com certeza a história dela vai te inspirar.

Caçulinha de 3 irmãos, Bia tem descendência japonesa, italiana e é residente de Clementina, interior de São Paulo. Seu primeiro contato com o câncer foi com seu pai, diagnosticado com câncer de pulmão aos 70 anos, e que por causa do estágio avançado, partiu em apenas 5 meses.

Após sua perda, começou a sentir dores abdominais, dificuldade para evacuar e, às vezes, sangue nas fezes, mas não deu importância. Afinal, ela só tinha 20 anos e estava ocupada com a faculdade e o estágio em direito. Ela só foi se acostumando e convivendo com os sintomas, até que um dia em casa, sua irmã encontrou papel higiênico sujo de sangue no banheiro e perguntou se ela estava menstruando novamente. Foi então que Bia se abriu com ela, que a levou ao posto de saúde para uma consulta com um proctologista.

Após os exames, foi recomendado a realização do exame de colonoscopia e também um tratamento com pomada + remédio. Mesmo sua irmã comprando os medicamentos, a jovem acabou deixando de lado, assim como a colonoscopia. Afinal, aos 20 anos, ela achava que eram apenas problemas intestinais comuns, algo normal. Mas não melhorou.

O diagnóstico

O tempo passou e já com 24 anos, outros sintomas surgiram: dor e inchaço abdominal, sensação de evacuação incompleta, perda de peso (que ela associava aos seus bons hábitos alimentares e prática de atividade física), e aquele sangramento que ela já tinha, se intensificou e passou a ser diário.

A intensidade da dor a fez ir ao posto de saúde e relatar ao médico tudo o que vinha ignorando. Ele solicitou um exame de colonoscopia, que chegou a demorar 1 ano para ser realizado através do SUS, mas que resultou em um diagnóstico: adenocarcinoma no retossigmóide.

Com apenas 25 anos, ela jamais imaginaria ouvir tal diagnóstico, mas as palavras do médico foram essenciais para sua jornada: "Não desanime, estou fazendo um encaminhamento urgente para o hospital do câncer. Você vai fazer o tratamento e vai ficar tudo bem. Não desista!"

Quando ela deu a notícia para sua mãe, em meio à toda aquela emoção, pediu perdão, por fazê-la reviver lembranças dolorosas da batalha contra o câncer de seu pai. Também contou aos irmãos, aos patrões e ao namorado da época, cujo relacionamento enfrentou dificuldades, e juntos decidiram terminar.

Após buscar por histórias semelhantes nas redes sociais, encontrou apoio e inspiração em pacientes de câncer de mama e de ovário, pois não achou uma rede de pacientes com o mesmo caso que o seu.

O tratamento

Como o tumor já estava grande e obstruindo o intestino, a jovem foi encaminhada ao Hospital de câncer de Barretos e submetida a cirurgia, que teve que ser refeita junto à a ostomia, pois um dia antes da sua alta, começou a sentir fortes dores abdominais, e a enfermeira percebeu que do dreno saíam fezes.

A revelação do uso da bolsinha a fez refletir sobre como seria sua vida dali em diante, questionando se seria capaz de retornar à faculdade, ao trabalho e à socialização. Mas, mesmo enfrentando dificuldades no fornecimento dos produtos pelos SUS, encontrou canais de suporte ao paciente oferecidos pelas marcas de produtos para ostomia, que a ajudaram a ficar mais confortável e confiante.

Seu oncologista sugeriu iniciar a quimioterapia, que ajudaria 5% no seu caso, mas os efeitos colaterais foram tantos, que suspenderam. Ainda se recuperando, sentiu uma forte dor abdominal que não conseguia sequer levantar do chão. Ficou durante três dias no hospital da sua cidade recebendo apenas medicamentos para a dor e chegou a perder a consciência. Disse à sua mãe: "Acho que é a hora, não vou aguentar." Esta, desesperada, implora para que ela fosse transferida ao hospital onde realizava o tratamento oncológico.

Já no Hospital de Barretos, diagnosticaram uma torção no intestino delgado. Nova cirurgia pela frente e sentiu que seus limites físicos e sua fé estavam sendo testados. Lembra-se que antes de ser sedada, viu sua médica e temeu ser sua última visão em vida.

A recuperação

Enfrentando mais uma vez o processo de reabilitação pós-cirúrgico, encontrou distração numa solicitação de amizade nas redes sociais, que deu início a conversas diárias com Vinícius do RS, que lhe proporcionaram um alívio do intenso universo em que estava mergulhada.

Quando Vinícius disse que viria até sua cidade para conhecê-la pessoalmente. Ao contar sobre a bolsa que usava, esperava que fosse o fim da relação, já que isso havia acontecido outras vezes com vários rapazes. Mas, ele a surpreendeu e disse que estava interessado nela, na pessoa que era. Sentiu um alívio e esperança, provando que o amor verdadeiro supera quaisquer desafios físicos ou condições de saúde.

Passados alguns meses, sua médica quis marcar a cirurgia para a retirada da bolsa. Mas a Bia recusou: "A bolsa não me impede de viver. Aliás, comecei a namorar, estou terminando a graduação e voltei a trabalhar”, disse a cat.

Por já ter enfrentado diversas cirurgias, ela simplesmente desejava um período de tranquilidade sem novas internações. Pressionada pela família e sentindo-se julgada pela decisão, buscou apoio psicológico no hospital. Após alguns meses de reflexão, finalmente amadureceu a ideia e realizou o procedimento que foi mais tranquilo do que imaginava.

O medo pós-câncer

Depois de tudo, surgiu um novo desafio: o medo pós-câncer. Com a ajuda da terapia, percebeu que havia mascarado muitos sentimentos desde o diagnóstico e viu a importância de sentir as coisas no tempo certo. A cada consulta de acompanhamento, o medo de reviver o passado aumentava, e mostrar-se vulnerável sempre foi difícil.

Desde então compartilha sua história na internet, oferecendo esperança e conscientização aos jovens a não negligenciar sua saúde.

Ao longo de quatro anos, estendeu a mão para outras pessoas, abraçando mesmo à distância, e sentiu a confiança depositada por cada pessoa que conversou.

Em dezembro de 2023, teve alta do hospital de câncer de Barretos e tocou o sino com todas as suas forças, dedicando não apenas à sua cura, mas também às vitórias diárias de cada paciente que testemunhou sua jornada.

Hoje, aos 31 anos, mora na mesma cidade e ainda namora o Vinícius, com quem completou 5 anos juntos. Bia é a prova viva de que as coisas nem sempre saem como planejado, mas a direção é mais importante do que a velocidade.


;